Ontem Sábado, um dia igual a outros. Quase não dou conta dos fins de semana, porque todos os dias, para mim são iguais. Isto é a vida de um reformado que tenta passar o seu dia em plena actividade.
O pântano, os Jacintos e os coqueiros depois do verde. As cobras os sapos e os lagartos vivem entre a verdura que ajudam a conservar o meio ambiente. A minha casa, precisa de ser pintadas as paredes. Depois de terminar a monção.
Entretenho-me por casa a escrever umas doze horas por cada dia. Sei que sai, em cada linha teclada "calinada". Que fazer? Não tive tempo de ir mais além, literariamente, da 4ª classe da escola Primária, com merendas de pão de centeio criado nos cabeços da minha Serra da Estrela e uma mão cheia de azeitonas, curtidas, pretas.
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Gosto de conversar com outros sem se quedarem junto. Exprimir aquilo que me vai na alma. De bem com todos e até com a minha mioleira. Há 19 meses que, apenas, me desloquei uma seis vezes à baixa de Banguecoque. Voltei um rural e homem do campo, com um pequeno quintal, asilado como o Guerra Junqueiro que se refugiou em Freixo de Espada à Cinta, para fugir à "parasita" política que na sua época infestava Lisboa.
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Eu afastei-me, não sei até quando, talvez até sempre, da Embaixada de Portugal em Banguecoque, enquanto uma "barrela" não a lavar. Sinto-me bem na minha casa, biológica, situada entre o verde e o pântano para além do muro que a divide. Um terreno aladadiço, onde crescem os jacintos, coqueiros os lagartos, os sapos, outros bichos e as cobras.
Umas dúzias de lâmpadas flurescentes de cores, colocadas numa armadura de ferro assinalam a festa
Cobras já familiarizado com estes bichos, rastejantes, que mal nenhum me fazem. Vivo na minha casa há 20 anos e a uns 17 quilómetros do centro de Banguecoque. É perto e não necessito de me deslocar lá. Para o que deveria fazer se junto à minha casa há tudo que na baixa há?
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Um moderno hospital a 500 metros de distância de minha casa; um dos maiores "shopping center" de toda a Ásia, o popular Central Department Stores; Big C, o Lótus, o Makro e uma boa dúzia de lojas, rápidas "7Eleven". Assim não necessito de me envolver no trafego citadino.
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Quando comprei a minha casa, nada existia à sua volta. Campos alagadiços onde crescia a batata doce; tapioca, outros vegetais e gente a trabalhar nas leiras ou a pescar o peixe gato (cat fish). Deu-se o crescimento galopante de Banguecoque e a cidade estendeu-se para os arrabaldes. Considero-me vítima do progresso. Quando mal nunca pior!
Gente, despreocupada, felizes contentes, onde para ela conta o trabalho nas fábricas, por ali à volta. Os tailandeses criaram, desde que se identificaram como Povo, 1180 nas terras do Norte en Sukhotai, uma forma de estar, impar, no seu Reino
A zona onde moro não escapou ao desenvolvimento. Porém ainda estou bem, não existem, à minha beira, os hotéis de três e cinco estrela nem construções de vinte e tal andares. Ainda se respira ar puro e durante noite o sossego absoluto. "Farangues" (estrangeiros para os tailandeses) nas redondezas, moram, penso, talvez uma meia dúzia ou pouco mais. Não os conheço.
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Claro sou o "farangue" mais antigo no bairro. Os meus vizinhos, tailandeses, conhecem-me há 20 anos de vivência, conjunta e nunca haja sido molestado ou minha família. Estranho não é? É isso mesmo. Há festa, nocturna, para além do verde de minha casa.
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Não é festa igual às das romarias que no verão decorrem em Portugal do Norte ao Sul. Festas sem música. A música nestas festas é outra! Muita comida, muita roupa ao desbarato, tendas restaurantes, cozinhas instaladas em mesas onde se confeccionam autênticas e deliciosas, iguarias.
Docaria, deliciosa, esquisita onde não falta o fios de ovos, genuinamente portugueses e trazidos de Ayuthaya de quando os portugueses, no "Ban Portuguete" viveram
Dúzias de qualidades de doçaria ali produzida perante os olhos do freguês. Carne de porco cosida aos pedaços, cuja "pratada" com arroz bem fica ceado, um "pândego" por pouco mais de 4o baths (menos de um euro). Incríveis os preços de tudo que nesta festa da noite. Por estranho que possa parecer a crise económica na Tailândia passa ao lado.
É isso mesmo. As fábricas, que há nas redondezas, de minha casa, continuam a laborar, porque os milhares de operários, que eu via há anos continuam a fazer compras e à noite enchem as mesas dos restaurantes de rua. Gente feliz e alegre. Sorrisos andam no ar para todos e oferecidos pela graça do senhor "Lorde Buda".


Pois é isso! É preciço fazer a vontade ao "puto birrento" comprando-lhe um plástico, empedernido de ar, com o desenho sugestivo. Vendedores de balões vão procurando ganhar a vida com dúzias de balões presos a uma guita a pairarem no ar.
Assim foi ontem ao princípio da noite os três da "famelga" de casa, eu, minha mulher e filha Maria, fomos à festa da noite e juntarmo-nos aos meus vizinhos do bairro e de outros que moram para mais além.Niguém que na festa se movimentava, tapava os sorrisos dos lábios mascarado com receio do "espirro" do passeante do lado e colher uma "carga" de gripe dos porcos.
Não se pensa em gripes nem do contágio desta "maldita porcalhona" que fez entrar em órbita/ paranóica, milhões pelo mundo adiante. Seja pela graça de Deus aquilo vier! E o negócio, dizem ós jornais, da venda do "Fami-flu" dos americanos vai bem!


Vejam,vejam estes sorrisos, francos, da doceira a confeccionar uma especialidade esquisita, trazida do Sul da Tailândia. Senhora com máscara ao pescoço por uma questão de higiene. O rapaz que vende seta para rebentar uns balõezinhos e ganhar um ursinho empalhado. E a orgulhosa, do lado, ganho um!
Minha mulher chinesa/tai, trata de mim com tantas e mais niquices, que até me chego a julgar um velho criança depois dos setenta e mais anos que já levo. São 30 anos aturar os meus "caprichos", latinizados, que o caminhar do tempo inseriu em mim a paciência oriental.
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Andou pela feira da noite a "vasculhar" as bancas onde se cozinhava comida e confeccionavam doces, em procura de uma especialidade, para mim. É tão vasta que não a conheço nem o paladar de todas. Começou a chuviscar e os vendedores, com o receio de que as nuvens despejam-se cântaros, toca tudo, minha gente, a proteger a mercadoria exposta no chão com coberturas de plásticos.
Uma nova moda de ganhar um ursinho de peluxe. Seis setas por 20 bates e rebentar seis balõeszinhos e levar um peluxe para casa. Impressionante como os peluxes são populares na Tailândia, entre a juventude. Abraçam-nos com carinho e, elas (talves alguns deles) dormem abraçados na cama.
Ó diabo tenho o Vitara distante e dois guarda chuva lá dentro... A pouco metros uma cozinha operada por gente muçulmana preparavam e vendiam na hora, doçaria e copos de refresco de leite condensado e café. Houve abrigo para nós debaixo da tenda, ao lado e, desde logo, a ordem de três omeletas com frutas no interior onde entra a manga, os tamarim e rodelas de bananas.
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Ficamos por ali uns minutos até que a nossa encomenda fosse preparada. Que delícia que sabor aquela omeletes vegetarianas me deu. Minha mulher deu ordem para outra dose e trouxemos para casa. Entretanto õ chuvisco como chegou partir. Não há mais chuva para ninguém.


O homem procede ao batido de café misturado com leite vertendo a mistura do alto. O jovem, embrulha as omeletas, mas antes deitou-lhe uns cheirinhos de essências, enquanto a mulher, trajando à muçulmana a rigor, compenetrada, cozinha a omelete.
A "famelga" andou por ali de um lado para outro. Eram 10 das noite e o pessoal não pára de chegar vindo de todas as direcções. A feira da noite ou mesmo a festa vai estar por ali até depois da meia-noite. Amanhã é Domingo e não há a preocupação de levantar cedo.
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Deixei a festa da noite junto às 11. Não deixo de que aqui frisar que não há crise económica na Tailândia. A homogeneização deste povo, a abundância do solo que tudo produz à farta, nunca por nunca este país estará em crise.
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Mas não deixo de aqui transcrever um parágrafo escrito pelo nosso Fernão Mendes Pinto: "...E realmente afirmo que de coisas que vi nesta cidade de Odiá (Ayuthaya, segunda capital da Tailândia) somente, poderia ainda contar muito mais particularidades..." (Pags 759-760, cap. 189, Peregrinação Vol.2).
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Eu também poderia contar mais e tantas coisas daquilo que observei, ontem à noite, entre o bom povo tailandês que a ele, por afectividade, estou ligado.
José Martins